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  • Enéias Tavares & Felipe Reis

VII - Noitário de A Todo Vapor! – Na Mira de Juca Pirama

Por: Enéias Tavares

No Noitário de Produção desta semana, Enéias Tavares bate um papo com Felipe Reis, o diretor e protagonista da websérie A Todo Vapor! Nesta conversa, os dois criadores discutem a produção cultural no Brasil, a recriação de Juca Pirama para uma nova audiência e o que esperar desse projeto desafiador e divertidíssimo!

Eu costumo receber convites para parcerias criativas com certa frequência. Às vezes são convites para romances ou quadrinhos escritos a quatro mãos – “eu te dou a ideia e você escreve!” – ou qualquer outra loucura do tipo jogos digitais, escolas de economia criativa ou ambiciosos projetos transmídia. Tais convites não são diários, mas são semanais e confesso que já investi tempo, dinheiro e paciência em reuniões, diálogos e criações que não levaram a nada, exceto mais sabedoria na cachola e precaução na hora de dizer qualquer “sim”. Como já havia passado por duas experiências – frustradas – de criação audiovisual, foi com reticência, para não dizer impaciência, que recebi uma mensagem em abril de 2017 de um cara chamado Felipe Reis. A proposta era no mínimo ambiciosa: Produzir uma websérie baseada em Brasiliana Steampunk!

Me conta primeiro, Felipe, quem é você e o que faz.

Meu nome é Felipe Reis, sou paulistano, tenho 35 anos e sou ator desde os 14. Já fiz diversas peças de teatro e trabalhei muito com publicidade. Gravei a 1ª versão de Chiquititas (1999), a novela do SBT que fez um grande sucesso no Brasil, e de 2009 a 2011 fui apresentador e ator do programa Nossa Língua, da TV Cultura. Sou formado em Rádio e TV, e desde 2005 me dedico à direção. Em 2007 criei a primeira websérie brasileira chamada Conversas de Elevador e desde então venho me dedicando a criar conteúdo para web.


Carreira de Felipe Reis como ator, diretor e locutor.


Contei um pouquinho ali em cima da minha versão do nosso encontro. Agora, queria que você contasse a sua. Como você chegou ao projeto A Todo Vapor!?

Eu estava morando no Rio de Janeiro e queria criar uma nova websérie com estética steampunk. Desenvolvi um argumento inicial, que nada tinha a ver com o trabalho contigo e com o Brasiliana Steampunk e fui atrás de parceiros no Rio, onde encontrei apenas o Ricardo Cavalcanti, do Conselho Steampunk, que me ajudou com algumas ideias. Voltando a São Paulo, 2 anos e meio depois de ter ido em busca do sonho de ser ator da Globo, retomei meus projetos. Comecei escrevendo a quinta temporada do Conversas de Elevador, que comemorou 10 anos em 2017. Foi no meio desse trabalho que lembrei do projeto steampunk. Comecei a pesquisar pessoas do meio em SP e descobri a Débora Silva, que tem um canal no YouTube. Como ela mora em Campinas, me indicou a Jesse Reeves. Marquei um café com ela – sou daqueles que AMA CAFÉ – e perguntei se ela conhecia alguém do steampunk que escrevia roteiros e que fosse de São Paulo. Ela me indicou você…

… Porém eu moro a mais de mil e trezentos quilômetros. Risos.

Isso mesmo! Ela me falou do seu livro, O Temível Dr. Louison, e das ações transmídia de Brasiliana Steampunk. Pensei: esse é o cara! Cheguei em casa, liguei para você e as coisas começaram a fluir a partir do meu argumento e da sua contraproposta de fazermos algo mais brasileiro, mais nacional, unindo alguns dos meus personagens com os heróis de Brasiliana. Mantivemos o título A Todo Vapor! e, em menos de um mês, os 8 roteiros estavam praticamente prontos.

Felipe Reis dirige Bruna Aiiso – Foto Stúdio Ghrun

Falando assim até parece que foi moleza, Felipe. Você só pulou a parte das várias reescritas e conversas via Skype para afinarmos tudo. Uma coisa que queria te perguntar: Audiovisual de super-herói no Brasil é algo inédito. O que te levou a investir nesse gênero?

A possibilidade de investir em um gênero inédito é um desafio, mas eu gosto de desafios. As pessoas têm um preconceito com a cultura nacional, talvez até porque ela seja pouco explorada no audiovisual. Suspense, fantasia e aventura misturados a Machado de Assis, Gonçalves Dias e José de Alencar, entre outros, pode dar super certo. A estética steampunk é o charme que precisávamos pra dar uma roupagem heroica a esses personagens, que muitos de nós aprendemos a amar – ou a odiar – ainda na escola.

Como foi o processo de desenvolvimento da trama, culminando no roteiro? O que você destacaria como os pontos fortes da história da série?

Discutimos um pouco o gênero que queríamos e as características de alguns personagens, aí você veio com a trama, com toda essa loucura de arcanos do tarô, mortes ritualísticas e Pamu, o Venerável, e eu dei uns pitacos aqui ou ali, sobretudo no Juca Pirama e na Capitu. No geral, foi um processo rápido, se pensarmos que, em média, projetos de audiovisual levam meses ou anos. O ponto forte da nossa história é que ela tem potencial pra virar outras histórias. Eu adoro viajar e ver A Todo Vapor! como uma franquia, com várias ramificações, com livros, quadrinhos e – quem sabe? – álbuns de figurinhas! Não seria foda?!

Bastidores das Filmagens, com diretor chegando até a luz! – Foto Stúdio Ghrun


Risos. Sim, seria. Hoje, quantas pessoas estão envolvidas na produção? Como você faz para organizar toda essa força de trabalho? Usa algum software, como a Thais Barbeiro usa?

Olha, tem bastante gente envolvida. Creio que, ao todo, contando as que se envolvem de forma indireta, o número já está batendo em 100 pessoas. O projeto tem uma dinâmica bem punk do “faça você mesmo”. Nunca fui um bom marqueteiro ou vendedor, mas me considero um bom realizador, e me orgulho disso. Juntei uma galera que ama o que faz, uma galera que coloca o amor na frente da grana e isso é refletido no set, nos momentos mais alucinantes e divertidos e também nos mais desafiadores. Quanto ao meu software, ele é o boca a boca, o olho no olho. Mas a Thais Barbeiro também tem me ajudado nisso. Obviamente, com você morando a mais de mil quilômetros de SP, WhatsApp ajuda muito!

Sabemos que todo projeto cultural apresenta seus próprios desafios. Qual ou quais foram os maiores desafios de A Todo Vapor! até agora?

Em primeiro lugar, é um desafio financeiro. Uma vez que não temos verba, exceto a nossa particular e da minha produtora, a Cine Kings, isso torna o nosso projeto uma produção independente, que conta com parceiros, apoiadores e entusiastas do steampunk tanto daqui quanto de Brasília, por exemplo. Sobre isso, gostaria de agradecer publicamente à dona Carmem Otero, a avó da nossa Vitória Acauã, que nos apoiou, bem como o Centro de Artes e Letras da UFSM. O auxílio financeiro que recebemos deles está sendo de grande ajuda.

Outra dificuldade é as locações. Como nossa história se passa em 1908, encontrar locações está sendo bem difícil. Escrevemos a história pensando na Vila Inglesa de Paranapiacaba, que fica aqui em São Paulo, achando que seria fácil gravar lá. Triste engano. Queriam nos cobrar R$3.000,00 por dia de gravação. Desde então estamos correndo atrás de um local pra ser nossa cidade fictícia: Vila Antiga dos Astrônomos! Outra dificuldade, mas que estamos tirando de letra, é a logística das gravações, que envolve transporte, hospedagem e refeições pra equipe e elenco. Das 30 pessoas que participam em média de um dia de filmagem, apenas 4 tem carro, o que torna a organização desse vai e vem um grande quebra-cabeça.

Você, Felipe, está assumindo no mínimo quatro funções nesse projeto: Produtor, Diretor, Ator e Editor. Qual é a mágica para conseguir fazer tudo isso e não enlouquecer?

Determinação, organização e força de vontade. Em posse desses 3 amuletos, o resto flui. E claro, a ajuda das pessoas envolvidas no projeto. Na parte de produção, por exemplo, estou contando com Amanda Vidotto, Daniela Campos, Felipe Penna e Thais Barbeiro. Sabendo distribuir o peso, as coisas ficam mais leves. A questão de dirigir e atuar, para mim, é tranquila. Mas volto a dizer que a organização é importantíssima. Preciso organizar meu tempo para poder pensar nas cenas, fazer a decupagem, o shot list e ainda decorar meu texto. Por estar 100% dentro do projeto, sei muito bem o que quero como diretor, e isso reflete no meu trabalho de ator.

A relação com o diretor de Fotografia também é importante, e o Pedro Filizzolla e eu nos damos muito bem. Por fim, sobre a edição: quando você dirige um projeto que você mesmo vai editar, é difícil dar errado. Você sabe os planos que precisa e então dirige a cena pensando na montagem e não apenas na filmagem.


Felipe Reis na pele de Juca Pirama encontra a Vitória Acauã de Pamela Otero.


Uma pergunta específica sobre isso: na gravação de uma cena que tem Juca Pirama, como você atua/dirige a cena e como você dirige a si mesmo? Ou é um processo mais intuitivo?

Como diretor, uma das coisas que acho fundamental para o ator é o tom do personagem. Se ele estiver com o tom correto, a cena flui de uma maneira natural e tranquila. Quando vou atuar, já chego afiado para a cena, o texto já está no coração – decorado. A intuição é ferramenta básica de um grande ator, e no jogo de cena com outros atores, coisas mágicas podem acontecer. Estou sempre aberto a isso, como ator e como diretor.

Como cinéfilo, quais são seus filmes/diretores preferidos e quais dessas referências você está levando para a Todo Vapor!?

Quentin Tarantino e Woody Allen são duas grandes inspirações para mim. O jeito como Tarantino conta a história em Pulp Fiction, por exemplo, é surreal! O modo como o Woody consegue retratar o cotidiano é fantástico. Já para os elementos mais steampunk e também de aventura, estamos trabalhando direto com questões visuais inspiradas em Penny Dreadful e na forma como Guy Ritchie dirige as cenas de luta em Sherlock.

Pra encerrar, quais as perspectivas da websérie se tornar uma série televisiva? Por que o Brasil precisa de uma série de TV com super-heróis brasileiros?

Espero que a websérie seja bem recebida pelo povo brasileiro e que tenha vida longa em festivais nacionais e também ao redor do mundo. Com a websérie, num primeiro momento, espero que a consigamos chegar a TV ou ao streamming. Está mais do que na hora de criarmos um conteúdo divertindo e fantástico, que valorize nossa história, nossa cultura e nossa arte.

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